É verdade que quase não conhecemos as pessoas. Aliás, nos
conhecemos muito pouco. Como já disse Clarice Lispector, “Sou meu desconhecido”
– e se ela disse, quem sou eu para discordar. Nós nos descobrimos e
redescobrimos ao longo da vida. Mas até que ponto uma pessoa se reconhece?
Qualquer um pode se identificar com um texto, um personagem,
um autor. Pensar “oh, meu Deus, achei que eu fosse o único que pensasse
assim”. Ou que aquilo que está lendo se
encaixa perfeitamente com algum momento de sua vida.
Mas, e quando alguém que você conhece escreve algo sobre
você (sem dizer seu nome), você seria capaz de reconhecer? Se for algo que você
vivenciou com a pessoa, algo que você disse ou fez, provavelmente sim, correto?
Mas e quando não é tão óbvio? Você seria capaz de identificar se aquilo é ou
não para você, ou nem sequer pensaria nisso?
Digo isso não só porque escrevo (felizmente, minhas
inspirações não são todas de carne e osso), mas também porque,
surpreendentemente, já escreveram sobre mim. Eu nunca pensei que alguém pudesse
me descrever como “delicada como a rosa, misteriosa como o vento”. Pois é, eu
não me reconheci. Mas adorei, foi meu momento musa (não me leve a mal). Se eu
tivesse apenas lido em algum lugar, jamais pensaria “eu sou assim”, “isso é pra
mim”. Eu provavelmente pensaria “como eu gostaria de ser assim”, porque eu não
me vejo dessa forma (bem, não exatamente), e não pensei que alguém pudesse me
ver assim.
Curiosamente, isso se encaixa perfeitamente com a imagem que
eu tinha de uma amiga minha (nós já éramos amigas ou eu queria ser amiga dela?
Enfim...) Uma garota mais quieta do que eu e muito inteligente. Eu a via assim,
embora não tivesse formado essas palavras, e não sabia que eu era assim também.
Se me dissessem “escrevi algo sobre você” ou “para você” eu
ficaria no mínimo, no mínimo curiosa.No livro Marina, de Carlos Ruiz Zafón, Marina confessa a Óscar que está
escrevendo sobre ele. Óscar fica completamente assustado.
- Sobre mim? O que quer dizer com escrever sobre mim?
- Quer dizer a seu respeito, não em cima de você, como se
fosse uma escrivaninha.
- Até aí eu também cheguei.
Marina se divertia com aquele nervosismo repentino.
- E então? – perguntou. – Faz uma ideia tão ruim de si mesmo
que não pode aceitar que valha a pena escrever a seu respeito? (p.50)
Bem, talvez ele não fizesse uma ideia tão ruim de si mesmo.
Provavelmente ele só não imaginava o que ela
poderia ver de bom nele. Também
não duvido que ele preferisse ser feito de escrivaninha – momentaneamente, pelo
menos.
Várias vezes, ao ler um livro, eu senti como se o autor
pudesse me observar, ver as minhas reações ao ler suas palavras, saber o que eu
sinto, o que eu penso. Era como se um pedacinho do autor estivesse em cada
exemplar de seus livros, e ele pudesse nos observar, nos conhecer. Seria uma troca justa, porque eu vejo um
pouco dele, mas ele não vê nada de mim, simplesmente não me conhece. E muitas
vezes eu gostaria que houvesse essa troca.
Isso só mudou quando eu li o livro publicado do meu ex-professor,
Leôncio Benedito de Souza. Às vezes, ao
mudar de página, eu me deparava com a foto dele na orelha do livro, e me
lembrava dessa sensação. E era muito estranho porque eu o conheço e ele me
conhece. Quer dizer, ele existe, é real, ele é uma pessoa, assim como eu... mas
com um livro publicado.
E eu pensava “Eu sei que ele não está me vendo.
Não pode estar em vários lugares ao mesmo tempo. Ele tem uma vida, e neste exato momento pode estar em
qualquer lugar, longe daqui”
terça-feira, 7 de junho de 2011
Eu já chorei à noite, atormentada por uma história. Querendo entrar nela, mudá-la, fazer as coisas de um modo diferente. Mas se fosse diferente, não haveria história. Se não fosse triste, não haveria história. E eu não a conheceria, não sofreria, não amaria. Se o amor fosse possível, ele não existiria.
domingo, 13 de março de 2011
Os escritores são cruéis. Eles nos fazem amar... e matam.
E eu sou o que, se eu gostaria de ter esse talento?
"Um nome para o que sou? Importa muito pouco, importa o que eu gostaria de ser." - Clarice Lispector
(ESSE POST PODE CONTER SPOILER, pense bem antes de ler. Eu avisei.)
Vou fazer agora algo que vai totalmente contra os meus princípios literários: contar o final de um livro. Mas o que me consola é que eu não vou contar o final da história. Uma coisa é como o livro acaba – com quais palavras -, outra é contar o que acontece – eles acabam assim, tal personagem faz tal coisa ou fulano morre - isso eu não faço.
Só a terceira é que pode dar um dica.
1. “UMA ÚLTIMA NOTA DE SUA NARRADORA
Os seres humanos me assombram.”
Livro: A Menina Que Roubava Livros
Detalhe: é a Morte “em pessoa” que conta a história – eu pensava que os humanos é que tinham medo da morte.
2. Livro: Eu Sou O Mensageiro
Frase: “Eu não sou o mensageiro. Eu sou a mensagem”
(Pensando se eu devo dizer qual é a mensagem... Não, não vou dizer. Não agora. É bom deixar alguém curioso, tomara que eu consiga.)
3. “Soube então que dedicaria cada minuto que tivéssemos juntos a fazê-la feliz, a reparar o mal que lhe causei e a devolver o que não tinha sabido lhe dar. Essas páginas serão nossa memória, até que seu último suspiro se apague em meus braços e eu a acompanhe mar adentro, onde nasce a corrente, para mergulhar com ela para sempre e poder, enfim, fugir para um lugar onde nem o céu nem o inferno possam nos encontrar, jamais.”
E o bom dessa é que não acaba, a história não tem um fim, e eu imagino o vem depois.
Eu sou o mensageiro também tem muito isso, só que é mais evidente, no final. É muito claro que não vai acabar. Acho que os melhores livros são assim. Os melhores livros não tem fim.
O começo desses livros também são ótimos, mas depois eu conto, afinal, quem liga para o começo? Por que o começo vem antes do final? Aliás, eu gosto muito de histórias que começam com o final.
A Keyte estava lendo “A Ordem da Fênix” e comentou comigo que se emocionou quando o Lupin aparece (eu amo o Lupin e eu também me emocionei).
Depois, conversa vai, lembrança vem, e sabendo o que acontece no final desse, do sexto e do sétimo, ela disse que a J. K. deveria ser presa, por matar tanta gente. É claro que eu achei um absurdo, mas faz sentido, e não pude me impedir de rir. Eu respondi “Tanta gente boa, né.” Ela completou “não é à toa que o apelido dela é J. Killer.”
Depois de um momento em silêncio, eu pensei em voz alta “A mãe dela devia ser uma grande mulher.” Disse isso porque, em entrevista à Oprah Winfrey, J. K. disse que não é exagero dizer que se a mãe dela não tivesse morrido, Harry Potter não seria a mesma coisa, que a morte dela está em uma ou outra página de Harry Potter. Eu acho que ela mentiu – está em muitas.
Em resposta ao meu pensamento a Keyte falou, com uma inegável pontada de raiva na voz “Tinha que ser mesmo, pra ela matar tanta gente!”
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
No momento em que eu li esta frase eu não pensei em outra pessoa senão em J. K. Rowling. É simplesmente perfeita para ela, ou melhor, para nós, fans da série, e da literatura em geral.
Eu quero embarcar no Expresso de Hogwarts e tudo que isso significa...
Acho que é uma bela postagem para ser a primeira do ano.
Feliz Ano Novo!, está só no começo...
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
"Você tem um confronto de duas pessoas totalmente diferentes, uma desmembrada, e que se tornou menos que humano, porque para mim, humano inclui a capacidade de amar, e ele deliberadamente se desumanizou... E essa outra pessoa cheia de falhas, vulnerável, e ainda assim continua lutando, continua amando, ainda se atrevendo a amar, se atrevendo a ter esperança."
Linda história, lindo vídeo, linda música, lindas falas...
"You're not a bad person! You're a very good person... who bad things happened to."
Você não é uma má pessoa. Você é uma pessoa muito boa a quem coisas ruins aconteceram...
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
É inviável falar que uma história se faz pelos seus mocinhos. Os vilões apimentam a história, a faz crescer, se tornar viva. Uma história só de mocinhos e perfeição não existe. E isso é um fato.
Olá pessoas,
desculpem eu ter andando meio sumida... mas não é porque eu esteja viajando, não. Muito pelo contrário...
Minhas férias estão tediosas... simplesmente tediosas, como são todas as férias de julho em que eu não viajo.
A única coisa de útil que eu fiz nessas férias foi algo que meu pai considera totalmente inútil*, ler Harry Potter e As Relíquias da Morte, o último da série e o primeiro que li - bom, não deixa de ser uma viagem, pensando bem. Faz dias que eu terminei e agora estou ansiosa pelo filme, a primeira parte sai em novembro, shit!
Mas eu não vou falar sobre Harry Potter com vocês, é melhor conversar com alguém que já leu, porque eu não quero contar os segredos do livro. Já contei alguns para minha prima que está lendo, e às vezes eu quero comentar algo sobre o final, mas eu lembro que ela ainda não sabe e me seguro.
É contra os meus princípios de leitora contar o final de um livro. Conto apenas em raras ocasiões, como, por exemplo, se a pessoa não for mesmo ler o livro. E na verdade eu já sabia parte do final, porque minhas queridas amigas que já leram há sei lá quanto tempo não se importaram em conversar na minha frente, e também por coisas que eu li no Atormente o Snape. Mas, mesmo assim, eu ainda tive muitas surpresas, então tá bom.
*meu pai acha Harry Potter inútil, não o gosto pela leitura.
O orkut tá um porre. O inglês tá um porre. Não estou aprendendo nada que eu já não saiba. Absolutely nothing.
Eu tive uma única professora de inglês durante 8 anos. Uma ótima professora. Ela sabia ser séria e divertida. E engraçada até quando estava séria. A prova dela tinha geralmente 2 ou 3 páginas e era tudo que a gente tinha visto durante o bimestre. E a nota era justa. Eu tirava 9,7; 9,8. E não perdia ponto por esquecer o ponto final - eu já sou crítica o suficiente quanto à pontuação, há tempos.
Tirei 10 no boletim mais de uma vez. E um dia ela estava falando para nós as médias. Eu fiquei com 7 ou 7,5. Ela olhou para mim e falou: "Eu nunca pensei que eu fosse te dar uma nota dessas." Eu fiquei sem graça. Tirei essa nota porque não entreguei lição. Pra qualquer pessoa essa poderia ser uma boa nota. Mas não em inglês, não para mim. Ela me conhece bem.
E agora que eu mudei de escola, em menos de 1,5 ano eu já tive 4 professores. Não 1, não 2, mas 4. E, me desculpe, mas nenhum é tão bom quanto ela.
Quem, diabos, avalia um aluno com uma simples e ridícula lista de exercícios?
Nós passamos 2 aulas inteiras fazendo merda nenhuma, ou seja, 1 ou 2 páginas do livro. O livro ainda tem 2 CDs que nós não usamos. Por que, diabos, compramos o livro então? Ah, claro, porque a professora anterior achou necessário. E quando nós compramos ela saiu da escola. And we fuck!
Eu nem trouxe o livro hoje. Por quê? Eu esqueci. Afinal, nós quase não usamos mesmo. Só faz pesar minha mochila, e eu to com dor nas costas. Dor nas costas é um porre.Dói os ombros também. Que também é um porre.
A frase preferida da professora é "Let's finish the conversation".
Hoje nós temos duas aulas para fazer, o quê? O que nós já fizemos! Que incrível!
A gente já fez os exercícios no livro, ela já corrigiu e agora ela quer que a gente copie as questões, não as respostas, mas as questóes inteiras numa folha à parte para entregar. Ah, go to shit. É muita folga. "Pra que que eu comprei o livro se tem que copiar tudo no caderno?" minha amiga disse.
Duas aulas para isso, ou seja, nada. Ela passou mais dois exercícios na lousa. Mas, tá, grande merda.
Minha amiga tá tirando dúvidas comigo e tem algumas coisas que não fazem sentido. Eu não tô fazendo, claro, porque estou escrevendo isso aqui.
E fuck it.
Essa escola tá um porre. Matemática também tá um porre. A professora é legal, mas, afe...
Um dia ela disse "A matemática é linda..." Eu tive vontade de rir, e pensei nas coisas que eu acho lindas - bem diferentes de matemática!
Pra que diabos eu vou usar pi, rad, alfa, beta, além de passar no Vestibular?
Não adianta responder - eu não vou usar.
E ômega, afe, eu só sei que tem no peixe...
"Quando um judeu aparece no seu local dse residência nas primeiras horas da madrugada, bem napátri da nazismo, é provável que você experimente níveis extremos de incômodo. Angústia, incredulidade, paranóia. Cada uma desempenha seu papel, e cada uma leva à suspeita furtiva de que uma consequência não propriamente paradisíaca lhe está reservada no futuro. O medo reluz. Implacável, nos olhos."
"A vida se alterara da maneira mais louca possível, porém era imperativo que eles agissem como se não tivesse acontecido absolutamente nada.
Imagine sorrir depois de levar um tapa na cara. Agora, imagine fazê-lo vinte e quatro horas por dia.
Essa era a tarefa de esconder um judeu."
*UMA TURNÊ GUIADA PELO SOFRIMENTO*
À sua esquerda, talvez à sua direita, ou até direto em frente, você encontrará um quartinho escuro.
Nele está sentado um judeu.
Ele é a escória.
Está morrendo de fome.
Sente medo.
Por favor, procure não desviar os olhos.
*A TROCA DE PESADELOS*
A menina: Diga, o que você vê quando sonha assim?
O judeu: ...Eu me vejo virando as costas e dando adeus.
A menina: Também tenho pesadelos.
O judeu: O que você vê?
A menina: Um trem, e meu irmão morto.
O judeu: Seu irmão?
A menina: Ele morreu quando eu me mudei para cá, no caminho.
*AS SAUDAÇÕES NATALINAS DE MAX VANDENBURG*
-Muitas vezes, Liesel, eu gostaria que isso tudo acabasse, mas aí, de algum modo, você faz uma coisa como descer ao porão carregando um boneco de neve.
"A cada minuto, a cada hora, havia uma preocupação, ou, para ser mais exata, uma paranóia. A atividade criminosa faz isso com as pessoas, especialmente com uma criança. Elas imaginam um sortimento prolífico de maneiras de serem flagradas. Eis alguns exemplos: gente pulando de becos. Professores que, de repente, descobrem todos os pecados que você já cometeu. A polícia parada na porta, toda vez que uma página é virada ou que se ouve um portão bater ao longe."
"Talvez a mulher do prefeito não a tivesse visto roubar o livro, afinal. Estava escurecendo. Talvez tivesse sido uma daquelas ocasiões em que a pessoa parece olhando diretamente para a gente, quando, na verdade, está feliz da vida prestando atenção em outra coisa, ou só devaneando. Qualquer que fosse a resposta, Liesel não tentou nenhuma análise adicional. Tinha-se safado, e isso era o bastante."
*UMA COISINHA PARA BAIXAR A EUFORIA*
Ela não se safara de coisa alguma.
A mulher do prefeito a vira, sim.
Só estava esperando o momento certo.
"A mulher do prefeito era apenas uma numa brigada mundial. Você já a viu antes, tenho certeza. Em suas histórias, seus poemas, nos filmes a que gosta de assistir. Elas estão por toda parte, então, por que não aqui? Por que não numa bela colina de uma cidadezinha Alemã? É um lugar tão bom quanto qualquer outro para sofrer.
A questão é que Ilsa Hermann tinha resolvido fazer do sofrimento sua vitória. Quando a dor se recusou a largá-la, a mulher sucumbiu a ela. Abraçou-a."
"Vez ou outra, Liesel se perguntava se deveria simplesmente deixar a mulher em paz, mas Ilsa Hermann era muito interessante e a atração dos livros era forte demais..."
Mais uma história incrível que eu tenho em mãos.(ops, mais de uma história)
Histórias interligadas, girando ao redor de um único livro. Personagens arriscando suas vidas para salvar um raro e lendário manuscrito judeu da fogueira, ou de coisa pior... como as mãos de um nazista.
Sobrevivendo a séculos de anti-semitismo na Europa e à censura da própria cultura judaica.
Para desvendar os mistérios da Hagadá de Sarajevo, Hanna Heath, uma australiana conservadora de manuscritos antigos é convidada para analisar o manuscrito.
Enquanto examina as páginas do pequeno volume, Hanna encontra minúsculas pistas da história do livro e os lugares por onde ele passou. Pistas como um pequeno fragmento de asa de inseto, manchas de vinho, ou até mesmo alguns poucos cristais de sal.
Cada uma dessas pequenas pistas nos dá uma história. Uma mais incrível que a outra. Cada uma delas, maravilhosa por si só, já daria um livro. Mas temos todas elas em um só - uma dádiva.
Passagens do livro:
"Como estudioso, ele tinha uma reverência inata por livros. Precisou, contudo, subjugá-la, quando sua missão passou a ser a de destruí-los."
"-Dom Vistorini, eu lhe imploro. Por qualquer ato de bondade que eu lhe tenha demonstrado no passado, pelos muitos anos que nos conhecemos. Por favor, poupe este livro. Eu sei que você é um homem culto, um homem que respeita a beleza. Você vê como o livro é belo...
-Maior motivo ainda para queimá-lo. Essa beleza poderá, um dia, seduzir algum cristão incauto a ver com bons olhos a sua repreensível fé judaica."*
"Ela não tinha arma, exceto a granada que os partidários eram obrigados a carregar no cinto.
-Se você estiver prestes a ser capturada, use-a para se matar e matar o maior número de inimigos que puder - Branko tinha dito. - Sob hipótese alguma, se deixe ser levada viva. Use a granada, e assim não será forçada por meio de tortura a nos trair."
"Vocês se convencem de que podem tapear a morte, e se sentem absolutamente ofendidos quando descobrem que não podem. Vocês ficam sentados em seus apartamentos confortáveis e assistem à guerra, e nos vêem sangrando, pela televisão. E pensam: "Que horror!", e depois se levantam e tomam outra xícara de café expresso."
"A princípio, quando cheguei aqui, sentia vergonha de minha escravidão nas mãos de um judeu. Mas agora minha única vergonha é a escravidão. E foi o próprio judeu que me ensinou a sentir tal coisa."
"Eu queria dizer "não dessa forma". Queria dizer: "dê-me mais alguns dias, mais algumas noites com você". Mas ela já tinha me dado as costas, e eu conhecia a força de sua vontade. Ela não voltaria atrás."
"Casei-me com ele. Não me pergunte por quê. Eu era uma garota tola. Mas, quando você não tem mais ninguém, ninguém que se lembra de você, qualquer pessoa com quem você partilhou uma experiência se torna alguém especial."
"Com minha mãe, a qualidade do vinho é um indício da gravidade da conversa.
Aquela, eu sabia, seria megagrave.
Ela já tinha me dito, na cama do hospital em Boston, que queria que eu mantivesse em segredo minha paternidade. Achei que estava louca. Quem se importaria com a pessoa com quem ela tinha ido para a cama tantos anos atrás? Mas ela me pediu para eu considerar sua posição, e eu considerei."
*eu fiquei com tanto ódio desse padre que fiquei inspirada para escrever um texto, Fé vs. Religião (post. 23/fevereiro).
Livro do espanhol Carlos Ruiz Zafón, O Jogo do Anjo é uma intrigante história passada na Barcelona da década de 20. Com cenários familiares da literatura de Záfon, como a livraria Sempere e Filhos e o misterioso Cemitério dos Livros Esquecidos, este é um livro no qual está presente o amor pelos livros, a paixão e a amizade, adicionados a outros ingredientes para dar sabor à história, como: fé, filosofia, religião, mistério, perseguição, assassinato, suicídio, perda, abandono, companheirismo, traição, entrega, coragem, covardia, afeto, alegria, loucura... entre outros. É um livro completo em todos os sentidos.
Os melhores trechos:
"Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita algumas moedas ou um elogio em troca de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente o doce veneno da vaidade no sangue e começa a acreditar que, se conseguir disfarçar sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de garantir um teto sobre sua cabeça, um prato quente no final do dia e aquilo que mais deseja: seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente vai viver mais do que ele. Um escritor está condenado a recordar esse momento porque, a partir daí, ele está perdido e sua alma já tem um preço."
"Não sabia se havíamos criado Deus à nossa imagem e semelhança ou se Ele nos tinha criado sem saber muito bem o que fazia."
"O Sr. Sempere acreditava que Deus vivia um pouco, ou muito, nos livros. E por isso dedicou sua vida a partilhá-los, a protegê-los, e a garantir que suas páginas, assim como nossas lembranças e nossos desejos, não se perdessem jamais. Pois acreditava, e me fez acreditar também, que enquanto houver uma só pessoa no mundo capaz de lê-los e vivê-los, haverá um pedacinho de deus ou de vida."
" A fé é uma resposta instintiva a certos aspectos da existência que não podemos explicar de outra forma, seja isso o vazio moral que percebemos no universo, a certeza da morte, o mistério da origem das coisas ou o sentido de nossa própria vida, ou ainda a completa ausência dele."
"- Sabe o que é bom nos corações partidos?(...) É que só podem se partir de verdade uma vez. O resto são apenas arranhões."
"É impossível sobreviver num estado prolongado de realidade."
"À medida que passava as páginas, tive a impressão de que tinha percorrido passo a passo o mapa de uma mente doente e alquebrada. Linha a linha, o autor daquelas páginas ia documentando sem saber seu próprio mergulho num abismo de loucura. O último terço do livro parecia ser uma tentativa de desfazer o caminho, um pedido desesperado de ajuda, vindo de dentro da prisão da insanidade, para tentar escapar do labirinto de túneis abertos por sua própria mente. O texto morria no meio de uma frase de súplica, numa interrupção brusca, sem explicação alguma."
"A única maneira de conhecer realmente um escritor é através do rastro de tinta que ele vai deixando: a pessoa que a gente pensa que vê nada mais é que um personagem oco, e a verdade se esconde sempre na ficção."
"Dizia que se fôssemos capazes de ver a realidade do mundo e de nós mesmos, sem rodeios, por um só dia, do amanhecer ao entardecer, daríamos cabo da própria vida ou perderíamos a razão."
"Meu primeiro impulso foi queimar tudo, mas não tive coragem. Sempre senti, a vida inteira, que as páginas que ia deixando à minha passagem eram parte de mim. As pessoas normais trazem filhos ao mundo, os romancistas trazemos livros."
Razões pelas quais eu simplesmente amo esse livro:
Eu amo livros. Não foi preciso mais do que o título e uma frase para me convencer a comprá-lo.
É uma história fictícia ambientada na Alemanha da Segunda Guerra Mundial. Gosto de histórias de guerra. Que mostram a realidade do mundo, o sofrimento de pessoas inocentes e como o ser humano é estúpido - entre outras coisas.
A única coisa escrita na contra-capa era: Quando a Morte conta uma história, você deve parar para ler.
É isso mesmo, a Morte em pessoa conta a história de Liesel Meminger, uma garotinha sobrevivendo em meio à guerra.
Nossa narradora, a Morte, encontra-se com Liesel, em vida, três vezes. E, de tão impressionada, decide contar sua história, que, segundo ela "é uma dentre a pequena legião que carrego, cada qual extraordiñária por si só. Cada qual uma tentativa - uma tentativa que é um salto gigantesco - de me provar que você e a sua existência humana valem a pena."
Liesel rouba seu primeiro livro da neve, O Manual do Coveiro, num momento de distração do coveiro na tarde em que seu irmão é enterrado.
*O SIGNIFICADO DO LIVRO*
1.A última vez que ela vira o irmão
2.A última vez que vira a mãe
O segundo ela rouba do fogo...
Só então ela passa a roubar de um lugar mais apropriado para livros.
"Se havia uma coisa a dizer sobre Liesel Meminger, era que seus roubos não eram gratuitos. Ela só furtava livros com base no que sentia ser uma necessidade de tê-los."
Aos 9 anos de idade, quando chega à rua Himmel, na casa de Hans e Rosa Hubermann, seus pais adotivos, Liesel mal sabia ler e escrever. É seu pai, Hans, quem a ensina.
Mas os livros sempre exerceram um grande fascínio sobre a menina. Ela precisava de palavras... tinha fome delas.
"Ela era uma menina. Na Alemanha nazista. Como era apropriado que descobrisse o poder das palavras!"
"...Era o livro que ela queria. O Assobiador. Não suportaria que ele lhe fosse dado por uma velha solitária e patética. Roubá-lo, por outro lado, parecia um pouco mais aceitável. Roubá-lo, em certo sentido doentio, era como merecê-lo."
Palavras de sua narradora:
"Esqueça a foice, diabos, eu precisava era de uma vassoura ou um rodo. E eu precisava de umas férias.
*UMA VERDADEZINHA*
Eu não carrego gadanha nem foice.
Nem tenho essas feições de caveira que vocês parecem gostar de me atribuir à distância.
Adoro livros que falam de livros. Acho que todo mundo deveria ler ao menos um.
Os meus preferidos (de todos, não apenas que falam de livros) sãoA Menina Que Roubava Livros, de Markus Zusak, e O Jogo do Anjo, de Carlos Ruiz Zafón.
Esses dois livros me mostraram que eu sei contar histórias. Juntei dois livros que não tem aparentemente nada a ver, a não ser o amor pelos livros.
Eu tinha 13 anos, 7 meses e 7 dias quando comecei a ler esse livro, que terminei 18 dias depois - muito tempo para mim. Quanto ao seu conteúdo eu era totalmente inocente. Eu realmente não sabia do que se tratava.
Foi assim que o conheci:
Estava eu, numa tarde qualquer daquele ano, andando tranquilamente a caminho da biblioteca. Chegando lá decidi explorá-la um pouco observando a estante de Literatura Francesa – porque eu acho uma língua charmosíssima, amo Cyrano de Bergerac, etc. Lá eu o vejo. E, interessada no título – simplesmente um nome -, eu o pego.
Um livro de um modelo clássico: páginas amareladas; capa dura azul escura; somente o título e o nome do autor, Gustave Flaubert; atrás, nada. Nenhuma sinopse.
Lendo o título eu tive a impressão de já ter ouvido falar nela, e pensei “Quem foi essa mulher?”. E decidi lê-lo.
Tempos depois fui à biblioteca devolver Matilda. E na quinta-feira, 1° de novembro, eu peguei Madame Bovary. – Até hoje não me conformo em tê-lo pego depois de ler Matilda – tão fofo, tão inocente.
No começo eu não entendi nada, mas não queria desistir. Era como um desafio. Um livro mais sério. Um livro francês, da metade do século XIX, grosso, com um monte de palavras que eu não conhecia e nomes em francês! E, além disso, eu nem sabia do que se tratava! Estava completamente perdida.
Começou em primeira pessoa. Então pensei que seria ele todo assim, ou até mesmo um diário, escrito pela própria Madame Bovary. Mas começou a contar a história de Charles Bovary e seus pais, o que me fez pensar que a tal seria a mãe dele. Só que de tanto falar no Charles eu pensei que ele ia virar travesti e seria ele mesmo a protagonista. (Mas foi só uma hipótese, uma idéia súbita – e absurda – que me veio à cabeça.)
Ele conheceu uma moça linda e meiga chamada Emma e casou-se com ela. A protagonista finalmente apareceu! O começo do casamento foi ótimo. Mas depois… ela caiu nas garras do tédio e eles viviam na rotina. (Bom, minha vida também estava um tédio, e por isso estava lendo!)
Eu logo percebi que ela precisava de um novo amor. Com o Charles não tava mais dando! Coitada, tão solitária e infeliz. Só achava companhia nos livros que lia. E o pior é que o marido ainda achava que ela era feliz! Ele sorria observando-a e pensava que, mesmo sem ele fazer nada, ela era feliz!
Ele agora a beijava em horas certas – algo como tomar banho ou escovar os dentes: quando saía para trabalhar e na hora de dormir!
Depois de uma prova sobre Romeu e Julieta na última aula encontrei a Catia, minha professora de História, na entrada da quadra, e fiquei conversando com ela. E, na mais pura inocência, disse que estava lendo Madame Bovary. Ao que ela logo respondeu: “Ah, Bovary é sem-vergonha!” Detalhe: ela nem disse madame.
Meu queixo caiu. Fiquei sem palavras. Congelei. Ela percebeu que eu não sabia o que dizer e falou: “Ela saía com todo mundo, não é?” Eu respondi não. (Eu tinha que defender a personagem que estava lendo!) “É sim”, ela retrucou. E eu tive que concordar: “mais ou menos”. Ela ainda acrescentou: “Pra época dela, ela era uma biscate!” !
Ela disse aquilo com tanta tranqüilidade. Eu pensei “Mas ela ainda não traiu ele. Até onde eu li.” Mas o papo-Madame-Bovary tinha acabado ali. E ela o encerrou em grande estilo.
Fui para casa sorrindo, ainda surpresa. “Ela disse que Madame Bovary é sem-vergonha!”, pensava eu. E na tarde daquele mesmo dia, lendo no sofá da sala, sozinha, cheguei a uma frase que dizia “…e ela entregou-se.” Fiquei inquieta. “Como assim ‘ela se entregou’? Em que sentido? Quer dizer que ela desabafou, disse como era infeliz no casamento, chorou… Ou se entregou… no sentido sexual da coisa?”
Como eu não tinha certeza de nada, resolvi parar de pensar e continuar lendo. Conclusão? Ela fez amor com ele. Ah, o nome dele era Rodolphe. Aconteceu num passeio a cavalo, certamente num lindo bosque. Ele a seduziu e ela se entregou.
No dia seguinte perguntei à Susana, minha ex-professora de Português, se ela já o tinha lido. Ela disse que era… - ela estava procurando uma palavra para defini-lo – imoral para a época. E era. Tanto que foi processado por ofensa à moral pública e religiosa e aos bons costumes. Que não deu em nada. Pelo contrário, deixou o autor mais famoso.
E o Rodolphe, o que ele estava pensando! “Com duas ou três palavras de galanteio ela será posse adorável.” Isso é coisa que se pense a respeito de uma mulher? Ainda mais casada, no século XIX? (Tudo bem que ele estava certo, mas mesmo assim) “Eu adoro mulheres pálidas”… Posso te garantir que ela não ficava mais pálida quando estava com ele.
Foi muito bom, mas acabou. Eles iam fugir e ele a abandonou. Ela estava realmente apaixonada. Ficou doente, foi horrível. E depois que se salvou virou até religiosa. E, por conta disso, hesitou em se envolver num terceiro relacionamento. Até porque agora ela era mais velha. – Até parece que ela não dava conta do recado!
Aconteceu algum tempo depois do Rodolphe. Ela reencontrou um amigo que, ela sabia, fora apaixonado por ela. Era Léon. E, depois que eles se entenderam, ela passou a ir à cidade onde ele morava uma vez por semana com a desculpa de fazer aulas de dança!
Ela curtiu, se apaixonou. Foi feliz. Novamente. Mas se cansou dele também. Agora fazia aquilo quase que ‘por obrigação’. E ele também estava cansado. Mas eles continuaram.
Ela e o marido estavam endividados, ela achou uma solução simples para se livrar.
Depois disso, o Charles encontrou as cartas que ela trocava com o amante e pensou, desolado: “Amaram-se platonicamente talvez” O que eu pensei? “Ah, claro. Amaram-se muito platonicamente.” E minha árdua leitura chegou ao fim. O que não quer dizer que isto termina aqui.
Quando fui devolver… mais uma vez fui surpreendida por alguém que já o tinha lido. Mário, o bibliotecário. Eu entrei e coloquei o livro sobre a mesa. Ele pegou, olhou para mim e perguntou: “Quem leu esse livro?” Não entendi o porquê da pergunta e respondi simplesmente ‘eu’. Ele me perguntou: “Você não achou meio pesado?” Respondi timidamente que não. (Eu não queria mentir. Mas não estava nem um pouco a fim de relatar minhas impressões sobre esse livro a uma pessoa que eu nem conhecia direito. – Nada pessoal.)
Mas ele continuou: “Um tanto indecente, picante, maçante?” Eu continuei totalmente sem-graça e respondi novamente que não. – Eu não consegui mudar de idéia como eu fiz com a Catia. – Ele me devolveu a carteirinha e finalmente me deixou em paz.
E na última quinta-feira de aula eu fiquei conversando com a Catia. Disse que tinha terminado o livro e dei minha conclusão: ela nunca seria feliz. – os românticos que me desculpem, mas não fui eu quem escreveu o livro. – E a Catia ainda teve a coragem de repetir aquilo! “Ela era uma biscatinha.” - disse ela, sorrindo. – e agora no diminutivo!
Contei também sobre o interrogatório na biblioteca. E ela me ajudou perfeitamente: “Mas não era nada… que você não conhecesse” – Exatamente! Não é nada de outro mundo. Faz parte da história da humanidade.
E depois de tudo isso eu me perguntei “Quem, da minha idade, já leu Madame Bovary?” ou “Quem leu Madame Bovary quando tinha 13 anos de idade?” Fiquei orgulhosa de mim.