segunda-feira, 12 de abril de 2010

O Jogo do Anjo

Livro do espanhol Carlos Ruiz Zafón, O Jogo do Anjo é uma intrigante história passada na Barcelona da década de 20. Com cenários familiares da literatura de Záfon, como a livraria Sempere e Filhos e o misterioso Cemitério dos Livros Esquecidos, este é um livro no qual está presente o amor pelos livros, a paixão e a amizade, adicionados a outros ingredientes para dar sabor à história, como: fé, filosofia, religião, mistério, perseguição, assassinato, suicídio, perda, abandono, companheirismo, traição, entrega, coragem, covardia, afeto, alegria, loucura... entre outros. É um livro completo em todos os sentidos.



Os melhores trechos:

"Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita algumas moedas ou um elogio em troca de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente o doce veneno da vaidade no sangue e começa a acreditar que, se conseguir disfarçar sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de garantir um teto sobre sua cabeça, um prato quente no final do dia e aquilo que mais deseja: seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente vai viver mais do que ele. Um escritor está condenado a recordar esse momento porque, a partir daí, ele está perdido e sua alma já tem um preço."

"Não sabia se havíamos criado Deus à nossa imagem e semelhança ou se Ele nos tinha criado sem saber muito bem o que fazia."

"O Sr. Sempere acreditava que Deus vivia um pouco, ou muito, nos livros. E por isso dedicou sua vida a partilhá-los, a protegê-los, e a garantir que suas páginas, assim como nossas lembranças e nossos desejos, não se perdessem jamais. Pois acreditava, e me fez acreditar também, que enquanto houver uma só pessoa no mundo capaz de lê-los e vivê-los, haverá um pedacinho de deus ou de vida."

" A fé é uma resposta instintiva a certos aspectos da existência que não podemos explicar de outra forma, seja isso o vazio moral que percebemos no universo, a certeza da morte, o mistério da origem das coisas ou o sentido de nossa própria vida, ou ainda a completa ausência dele."

"- Sabe o que é bom nos corações partidos?(...) É que só podem se partir de verdade uma vez. O resto são apenas arranhões."

"É impossível sobreviver num estado prolongado de realidade."

"À medida que passava as páginas, tive a impressão de que tinha percorrido passo a passo o mapa de uma mente doente e alquebrada. Linha a linha, o autor daquelas páginas ia documentando sem saber seu próprio mergulho num abismo de loucura. O último terço do livro parecia ser uma tentativa de desfazer o caminho, um pedido desesperado de ajuda, vindo de dentro da prisão da insanidade, para tentar escapar do labirinto de túneis abertos por sua própria mente. O texto morria no meio de uma frase de súplica, numa interrupção brusca, sem explicação alguma."

"A única maneira de conhecer realmente um escritor é através do rastro de tinta que ele vai deixando: a pessoa que a gente pensa que vê nada mais é que um personagem oco, e a verdade se esconde sempre na ficção."

"Dizia que se fôssemos capazes de ver a realidade do mundo e de nós mesmos, sem rodeios, por um só dia, do amanhecer ao entardecer, daríamos cabo da própria vida ou perderíamos a razão."

"Meu primeiro impulso foi queimar tudo, mas não tive coragem. Sempre senti, a vida inteira, que as páginas que ia deixando à minha passagem eram parte de mim. As pessoas normais trazem filhos ao mundo, os romancistas trazemos livros."

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